Obesidade, o Mal do Século *
Dr. Alfredo Halpern
Trazemos nesse post um artigo do Dr . Alfredo Halpern, um dos maiores especialistas brasileiros em Obesidade (apesar deste post não ser de autoria da blogueira, considero que o assunto é importante demais e nada como ler a opinião de um especialista. No final, está o endereço para correspondencia do Dr. Halpern).
O que é obesidade?
Obesidade significa excesso
de gordura no organismo.
A medida exata de gordura é
de muito difícil obtenção, mas alguns índices podem avaliar de uma maneira
relativamente correta a quantidade de gordura do corpo.
O índice mais utilizado é
chamado Índice de Massa Corporal (IMC), que se obtém dividindo o peso do
indivíduo (em Kg) pela altura ao quadrado (ou altura x altura) em metros.
Obtém-se assim um número seguido de Kg/m2 que deve ser interpretado da seguinte
maneira:
menor que 18 Kg/m2 =
subnutrido
de 18 a 26 Kg/m2 = normal
de 26 a 30 Kg/m2 = pesado
acima de 30 Kg/m2 = obeso
Indivíduos com valores de
IMC superiores a 40 Kg/m2 são chamados de obesos mórbidos (devido à grande
morbidez, isto é, doenças graves relacionadas com este grau de obesidade).
Quais são as causas da
obesidade?
A obesidade é causada por um
desbalanço, entre as calorias que são consumidas sob a forma de alimentos e as
calorias que são gastas pelo indivíduo para o organismo funcionar, mesmo em
repouso, realizar as atividades física e digerir os alimentos consumidos.
O excesso de calorias
(resultante de um balanço positivo entre o que é consumido e o que é gasto) é
depositado no organismo. Boa parte desse depósito se faz sob a forma de gordura
e quanto mais se deposita mais obeso é o indivíduo.
Dessa maneira, a pessoa pode
ser obesa porque:
come exageradamente e/ou
gasta poucas calorias e/ou
tem mais facilidade de
produzir gordura quando o balanço calórico é positivo e/ou
"queima" gorduras
com menor facilidade.
Quais são os fatores de
risco da doença?
São propensos à obesidade
aqueles indivíduos que apresentam uma tendência genética a ser obesos - e isto
é bastante freqüente - ou quando, mesmo sem tendência genética, exageram na
quantidade de alimentos ingeridos (particularmente os alimentos gordurosos) ou
levam uma vida muita sedentária.
Quais os tipos de obesidade?
Os indivíduos obesos
apresentam-se com maior quantidade de tecido gorduroso pelo organismo e essa
deposição de gordura é variável de pessoa para pessoa.
A grosso modo, existem dois
tipos básicos de distribuição de gordura:
na região subcutânea (abaixo
da pele), particularmente da cintura para baixo, é chamada de obesidade ginóide
(porque acomete mais as mulheres) ou obesidade em pêra (pela forma) ou
obesidade subcutânea; e
no abdômen, profundamente
entre as vísceras, é chamada de obesidade andróide (porque acomete mais os
homens) ou obesidade em maçã (pela forma) ou obesidade visceral.
Naturalmente há grandes
variações entre este dois tipos de distribuição de gordura pelo corpo e há
indivíduos com os dois tipos de obesidade.
Quais as conseqüências da
obesidade se não houver tratamento?
Se o indivíduo com obesidade
não se tratar, ele tende a engordar cada vez mais.
Como obesidade é fator de
risco indiscutível para várias doenças - só para citar exemplos: diabetes
mellitus, hipertensão arterial, alteração nos níveis de triglicérides e
colesterol, infarto do miocárdio, derrame cerebral, tromboses, problemas
ortopédicos e dermatológicos etc. - a manutenção da obesidade ou o seu
agravamento, faz com que o indivíduo se torne cada vez mais suscetível a
doenças graves e morte precoce.
Obesidade é hoje considerada
doença crônica com prognóstico de qualidade de vida comprometida por vezes
seriamente e, portanto, deve ser tratada.
Quais as chances dos filhos
de indivíduos obesos apresentarem a doença?
A obesidade tende a se
agregar nas famílias. A chance de obesidade nos filhos é de 80% quando ambos os
pais são obesos, cerca de 50% quando um dos pais é obeso, e cerca de 10% quando
nenhum dos pais é obeso.
Essa tendência à obesidade
em família é explicável por dois fatores: genético (hoje em dia bem
reconhecido) e ambiental, que em muitos casos predomina, e que significa maus
hábitos de vida, particularmente alimentação inadequada e atividade física
discreta.
Quais as formas clínicas de
obesidade?
Existem vários tipos de
obesidade, com várias causas e vários quadros clínicos. Podemos encontrar desde
indivíduos obesos sem nenhuma alteração clínica (isto é, sem pressão alta, sem
distúrbios em triglicérides ou colesterol, sem diabetes, sem problemas
ortopédicos) até indivíduos com quadro clínico bastante grave.
A abordagem terapêutica deve
levar em conta o tipo de obesidade e sua gravidade.
A obesidade atinge com maior
freqüência algum grupo específico de pessoas?
O número de obesos vem
crescendo de uma maneira espantosa. A prevalência da obesidade vária de país
para país mas, com pouquíssima exceções, em todas as regiões onde há
possibilidade de obter comida com facilidade, há um nítido aumento na
prevalência da obesidade.
No Brasil, 40% dos adultos
apresentam excesso de peso (IMC maior que 25Kg/m2) e hoje quase não há
diferença entre os indivíduos que vivem na cidade ou os que vivem no campo.
A prevalência de obesidade é
maior nas classes sociais mais favorecidas e é nela que se observa o maior
aumento no número de casos. Se analisarmos só indivíduos com IMC maior que 30
Kg/m2 observamos predomínio de obesidade nas mulheres (cerca de 15%). Nos
homens a porcentagem está em torno de 8%.
Obesidade
Prof. Dr. Alfredo Halpern
Tratamento
Como é o tratamento?
Como é feito o tratamento
medicamentoso?
Quais os tipos de tratamento
cirúrgico?
Como prevenir?
Como é o tratamento?
O tratamento básico da
obesidade apóia-se na modificação do comportamento alimentar e no incremento da
atividade física.
A alimentação diária deve
variar de indivíduo para indivíduo, de acordo com seus costumes, gostos e
estilo de vida. Entretanto, alguns princípios devem reger o cardápio diário: a
restrição às gorduras, que não devem ultrapassar 30% do total calórico diário,
a preferência por verduras, legumes, frutas e carboidratos complexos (arroz,
macarrão, pão, farinha, etc.).
Recomenda-se ingerir alimentos
ricos em fibras como pão integral, arroz integral etc. Evidentemente que para
obter uma perda de peso, deve-se ingerir menos calorias do que as calorias
gastas.
A prática de uma atividade
física não precisa ser na academia de ginástica ou a prática de um esporte
específico. Pode ser apenas uma maior atividade no dia-a-dia, como
movimentar-se mais, não ficar muito tempo parado na frente da T.V. ou do
computador, etc.
Para que o obeso coma com
mais disciplina e mantenha-se ativo fisicamente, muitas vezes, é necessário que
ele se submeta a um tratamento comportamental.
Como é feito o tratamento
medicamentoso?
Como a obesidade é uma
doença crônica e muitas vezes o tratamento clássico com planejamento alimentar
e incentivo à atividade física não funciona, temos de administrar medicamentos
que auxiliam a perda de peso e a manutenção do peso atingido. Existem vários
tipos de medicamentos para o tratamento da obesidade com objetivos distintos:
diminuir a fome;
aumentar a saciedade;
aumentar a queima de
calorias;
diminuir a absorção de
gorduras.
A escolha de um ou de outro
remédio depende de cada paciente, do seu grau de obesidade, do seu hábito
alimentar, das complicações que tem etc., e deve ser feita pelo médico.
Nunca se deve tomar remédio
porque alguém (não médico) aconselhou e não se deve confiar em quem (médico ou
não) dê fórmulas com muitos componentes ou que venda seus próprios remédios.
Quais os tipos de tratamento
cirúrgico?
Por vezes, nos casos muito
graves de obesidade (IMC superior a 40 Kg/m2) é necessária a intervenção
cirúrgica.
Existem várias técnicas
cirúrgicas, cada qual com um objetivo específico.
A mais simples é realizada
por laparoscopia (são feitos pequenos orifícios na parede abdominal por onde
são introduzidas "mãos mecânicas", manipuladas pelo cirurgião) e tem
por objetivo colocar uma banda em volta do estômago para controlar o diâmetro
do orifício de passagem do alimento, ajustada por um dispositivo colocado
embaixo da pele. Nessa técnica, a perda de peso é de 10 a 20% do peso inicial.
A cirurgia maior é feita com
a abertura da pele ou por laparoscopia (dependente entre outras coisas do grau
de obesidade). Nessa técnica, a maior parte do estômago é cortada, deixando uma
pequena parte que se une à porção do intestino delgado chamado de jejuno. O
grande estômago fica fora do circuito dos alimentos e, unido ao duodeno, é
ligado também ao jejuno, mais ou menos um metro abaixo da sutura do pequeno
estômago que restou. Esta cirurgia, que é a mais utilizada no mundo todo,
apresenta em geral excelentes resultados e, em mãos hábeis, é bastante segura.
A perda de peso é de cerca de 40% do peso original e, quase sempre, o indivíduo
permanece com o mesmo peso (com pequenas variações) pelo resto da vida.
Professor Livre Docente da
Disciplina de Endocrinologia e Metabologia da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo, Chefe do Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Serviço de Endocrinologia
e Metabologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, Médico
do Grupo de Obesidade e Doenças Metabólicas do Serviço de Endocrinologia e
Metabologia e doPronto-socorro Médico do Serviço de Clínica Médica de
Emergência do Hospital das Clínicas da FMUSP.
Endereço para
correspondência
Alfredo Halpern
Rua Romilda Margarida
Gabriel, 81 — CEP 04530-090 — Itaim-Bibi — São Paulo
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